domingo, 24 de março de 2013

Não Existe Jogador Mercenário

Você está vivendo sua rotina, bem-empregado, recebendo seu salário e levando sua vida. Até que um belo dia, você recebe uma proposta de uma empresa concorrente. Você receberia mais do que o dobro do seu salário atual, mais benefícios -vale-compras, vale-refeição e vale-combustível, além de auxílio médico e odontológico- dos quais você não goza no seu atual emprego. Você hesitaria em aceitar a proposta?

Essa situação é muito comum em qualquer ramo no mercado de trabalho, inclusive no futebol. Mas por que quando isso acontece com o jogador de futebol, ele é rapidamente chamado de mercenário pelo torcedor? Acabou o amor à camisa? Nada disso.

Já escrevi em outro post que a carreira de um jogador de futebol é efêmera e quando o atleta chega aos 30 anos ele já é considerado "velho". O jogador, portanto, tem pressa em fazer a sua "independência financeira". Ele precisa garantir o seu sustento enquanto é jovem e ele está em plena forma, já que ele dificilmente jogará no mesmo nível depois dos 30 anos. É só ver a quantidade de atletas que chega nessa faixa de idade e vive mais tempo no departamento médico do que em campo. Luis Fabiano, Rogério Ceni, Alessandro, Sheik, Léo e Marcos Assunção vivem desfalcando seus times por conta de lesões. E quando se chega a essa faixa de idade, você dificilmente tem mercado e, portanto, você tende a receber salários menores.  A menos, é claro, que você seja um grande astro, como Ronaldinho Gaúcho, Buffon, Klose, Casillas, ...

Trocar de time, mesmo que seja um grande rival, faz parte do trabalho e, de maneira nenhuma, representa falta de amor à camisa. Significa apenas que o jogador age como um profissional e, como tal, busca melhores condições de trabalho e maior projeção/valorização na carreira, assim como você provavelmente faria se recebesse uma proposta para mudar de emprego pelo dobro do salário.

Mas ainda existe amor à camisa? Sim. Rogério Ceni e São Marcos recusaram toda e qualquer proposta de outros clubes (inclusive do exterior) pelo amor e pela grande identificação que eles têm para com seus clubes. Casillas, Puyol, Xavi, Iniesta, Messi, Lahm e Götze poderiam muito bem migrar para o futebol no Oriente Médio, na Rússia ou na China, onde os salários são obscenamente elevados -maiores até do que o padrão do Oeste Europeu-, mas não o fazem por amor às suas camisas.

O fato de um jogador deixar seu clube por salários maiores não faz dele um mercenário. O que o torcedor precisa compreender, portanto, é que os casos de Ceni, Marcos, Casillas e Messi são exceções em que o coração falou mais alto do que o cérebro. O coração de uma pessoa não tem lógica. O coração emana um sentimento que faz você recusar uma propostas de receber salários mais altos em algum outro cargo ou em alguma outra empresa. Esse sentimento chama-se amor e, como diz o ditado, o amor é cego.

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